Imagine todas as peças de vestuário que levam algodão. Jeans, jaquetas, roupas de cama, roupas sociais, camisas masculinas, vestidos e pijamas flanelados já estão mais caros e devem encarecer até 30% com a mudança da coleção Outono/Inverno para a coleção de Verão. O aumento se deve ao preço do algodão, que compõe de 35% a 40% dos tecidos e repercute diretamente nos preços da indústria do vestuário.
Segundo Willian Moura, vice-presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário da Bahia (Sindivest), o tecido que era comprado a R$ 6 em 2008, passou para R$ 10 este ano e não há mais como as confecções segurarem os preços. “Começamos a comer a margem de lucro, mas o valor já deve estar em 50% do preço praticado a poucos anos atrás”, analisa Moura.
O empresário também acrescenta que se antes ele tinha que encomendar ao fornecedor da indústria têxtil o tecido com seis meses de antecedência, agora são precisos até nove meses para as encomendas chegarem. “As empresas de confecção menores ainda ficam à mercê destas grandes empresas”, lamenta.
Se o consumidor prestar atenção no material que está comprando vai perceber: a tendência tem sido substituir o algodão. Eunice Habide, presidente da Sindivest-BA, diz que para não encarecer as roupas tem procurado tecidos que não são 100% compostos de algodão, mas de outras fibras como viscose, linho e poliéster. “Desta forma, conseguimos que o preço caia um pouco”, acrescenta Eunice.
Quando questionada sobre a qualidade desta substituição, Eunice acredita que há vantagens e desvantagens. Além de baixar o preço da roupa, um ponto bem positivo, as peças que levam menos algodão tendem a amassar menos, o que facilita o dia a dia das pessoas. “Já a roupa fabricada com algodão tem uma boa absorção de umidade. Para o nosso clima é mais interessante e confortável”, justifica Eunice. Segundo o Sindivest, não há nenhuma perspectiva que o preço do algodão diminua no mercado global, no futuro próximo.
Crise
O aumento do consumo na China, bloqueio da exportação da Índia e a quebra de safra nos EUA foram alguns dos fatores que influenciaram a alta do algodão nos últimos meses. Segundo Fernando Pimentel, diretor superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), houve meses em 2010 que a alta do algodão chegou a 140%, e os efeitos desta valorização estão sendo sentidos nas coleções deste ano.
“Já chegamos a comprar o quilo do algodão por R$ 5,50, em 2010 o quilo ultrapassou os R$ 10, estando hoje em cerca de R$ 8,80”, comenta Pimentel. Para o empresário, com um aumento tão exorbitante é complicado conter o preço dos tecidos e das roupas. Ele ainda reclama que outros reajustes têm impactado a indústria têxtil, como o preço da energia elétrica, dos salários e dos produtos químicos. “O aumento vai continuar”, ele avisa.